Nesta manhã, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, manteve uma conversa importante com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tratar da iminente expulsão do embaixador brasileiro na Nicarágua, Breno Souza da Costa. A expulsão, prevista para ocorrer na quinta-feira (8), é um movimento significativo que simboliza o corte completo das relações diplomáticas entre os dois países.
Essa discussão entre Lula e Vieira aconteceu antes de uma reunião ministerial convocada pelo presidente, demonstrando a urgência e gravidade da situação. A informação sobre a conversa foi confirmada pelo Itamaraty, reforçando o impacto potencial desse acontecimento nas relações internacionais do Brasil.
A decisão do governo nicaraguense de expulsar o embaixador brasileiro, segundo a imprensa local, foi tomada em retaliação à ausência do Brasil em um evento crucial realizado em 19 de julho. A celebração marcava os 45 anos da Revolução Sandinista, um processo histórico que pôs fim à ditadura estabelecida na Nicarágua em 1936. A cerimônia ocorreu em Manágua, capital do país, e a ausência do representante brasileiro foi interpretada como um sinal de desdém, agravando as tensões diplomáticas.
Daniel Ortega, presidente da Nicarágua desde 2006, tem uma longa trajetória como líder do movimento de esquerda sandinista, que derrubou o ditador Anastasio Somoza em 1979. Ortega, que também governou o país durante os anos 1980, consolidou seu poder ao longo das últimas décadas, transformando a Nicarágua em um novo regime ditatorial, conforme avaliado pelo índice V-DEM, que classifica a situação democrática das nações.
De acordo com o Itamaraty, a ausência do embaixador brasileiro no evento de julho se deve ao congelamento das relações diplomáticas entre Brasil e Nicarágua, um passo que o Brasil tomou há cerca de um ano. Essa medida foi uma resposta direta à intensificação da repressão do governo de Ortega, que incluiu a prisão de padres e bispos e outras violações dos direitos humanos.
A Nicarágua tem enfrentado uma crise profunda de direitos humanos desde 2018, quando protestos contra e a favor do governo Ortega foram violentamente reprimidos, resultando em mais de 300 mortes, segundo estimativas da ONU. Desde então, o governo nicaraguense tem perseguido oponentes políticos, proibido atividades religiosas católicas, fechado universidades, organizações não-governamentais e veículos de imprensa.
Em 2022, a situação piorou com uma ofensiva do governo Ortega contra a Igreja Católica, que envolveu o confisco de propriedades, a dissolução de ordens jesuítas e a prisão de membros do clero que criticavam o autoritarismo crescente. O Brasil, em sua função de mediador entre o Vaticano e Manágua, pressionou pelo fim das prisões, o que resultou em uma queixa formal do governo nicaraguense contra o Brasil na semana passada.
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