A cidade de Gravataí, que fica na Região Metropolitana de Porto Alegre/RS, está no centro de uma polêmica que mexeu com o imaginário popular e com as leis locais. Tudo começou com o anúncio da inauguração de um santuário dedicado a Lúcifer, liderado pelo Mestre Lukas de Bará da Rua. A proposta era inaugurar o templo na última terça-feira (13), com a presença de membros da Nova Ordem de Lúcifer na Terra, uma ordem religiosa que se diz focada em rituais ancestrais e no estudo do "conhecimento iluminado".
Porém, a inauguração acabou barrada por uma decisão da Justiça, que foi rápida no gatilho. A 4ª Vara Cível Especializada em Fazenda Pública de Gravataí, a pedido da prefeitura, decidiu interditar o santuário antes mesmo de abrir as portas. O motivo? Falta de alvará, PPCI (Plano de Prevenção e Combate a Incêndios) e até mesmo CNPJ para funcionar legalmente. A prefeitura também alegou que, devido à repercussão do tema, havia uma preocupação com a segurança pública.
A decisão veio em forma de uma tutela de urgência, o que significa que a Justiça entendeu que a situação pedia uma resposta rápida. Com isso, não só a inauguração foi suspensa, mas o local foi interditado até que tudo estivesse dentro das normas. A multa por descumprimento é de R$ 50 mil por dia, um valor alto o suficiente para qualquer um pensar duas vezes antes de desobedecer.
Mas, como era de se esperar, Mestre Lukas e sua turma não ficaram quietos. Ele logo entrou com recurso para tentar reverter a decisão, argumentando que tudo isso tem a ver com intolerância religiosa. Segundo ele, o terreno é uma área rural onde ele tem o direito de reunir amigos para falar da religião, assim como qualquer outra pessoa tem o direito de reunir os seus. Para ele, é um caso claro de perseguição por parte do poder público.
E a estátua de Lúcifer? Essa já está de pé. A imagem, que tem cerca de 5 metros de altura com o pedestal e pesa uma tonelada, foi instalada no último dia 9. Feita de cimento e com um design que mistura elementos humanos e esqueléticos, a estátua foi idealizada pelo próprio Mestre Lukas, que diz ter sonhado com ela. O monumento custou R$ 35 mil, bancados pelos membros da ordem, e deve receber uma iluminação especial após a inauguração oficial.
Mestre Lukas explica que, para eles, Lúcifer simboliza a luz do conhecimento, e a estátua é um reflexo dessa dualidade entre o homem e o espírito. A ordem, que tem cerca de 100 membros em todo o Brasil, se reúne duas vezes por mês para rituais e estudos. A ideia é desmistificar o culto a Lúcifer e promover um espaço de debates e rituais que tragam energias ancestrais.
Mas é claro que nem todo mundo gostou da ideia. Nas redes sociais, a polêmica tomou conta. Alguns apoiaram o santuário, falando sobre respeito à diversidade religiosa, enquanto outros associaram o templo ao demoníaco, o que só aumentou o barulho em torno do assunto. A acusação mais pesada foi a de que o projeto estaria sendo financiado com dinheiro público, algo que tanto a prefeitura quanto Mestre Lukas negam com veemência.
Essa história mostra o embate entre o direito à liberdade religiosa e as normas legais que regem o funcionamento de qualquer empreendimento, inclusive os templos. A Justiça deixou claro que, embora a liberdade religiosa seja um direito fundamental garantido pela Constituição, isso não exime ninguém de seguir as regras administrativas.
Agora, com o recurso em andamento, resta saber se o santuário de Lúcifer vai mesmo abrir suas portas ou se ficará apenas na intenção. De qualquer forma, a polêmica já está lançada, e Gravataí virou palco de um debate que mistura fé, lei e preconceito. E como tudo que envolve religião e temas sensíveis, essa discussão ainda vai render muito.
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