O caso que envolve o técnico de enfermagem Wesley da Silva Ferreira chocou Curitiba e levantou questões cruciais sobre segurança, ética profissional e controle nos serviços de saúde pública. A investigação conduzida pela Polícia Civil do Paraná (PCPR) tem trazido à tona detalhes perturbadores de uma prática que vinha se desenrolando sob o véu da confiança depositada na figura dos profissionais de saúde.
Wesley, de 25 anos, confessou ter abusado de pelo menos cinco pacientes na UPA da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), uma revelação que pegou todos de surpresa. Durante o depoimento, admitiu que as vítimas estavam sedadas e que filmava os atos por "vontade", um comportamento que ultrapassa o imaginável e suscita repulsa. A delegada Aline Manzatto, responsável pelo caso, tem sido incisiva em suas investigações e está convencida de que pode haver mais vítimas além do que o próprio Wesley admitiu.
O técnico, que estava em tratamento para o HIV desde 2019, assumiu os riscos ao praticar os abusos, o que configura ainda perigo de contágio por moléstia grave — um agravante em seu processo. Na residência do suspeito, os investigadores encontraram remédios, incluindo Fentanil, furtados dos hospitais onde trabalhou, uma substância potente e de uso restrito.
O impacto dessas revelações fez com que a Secretaria Municipal de Saúde se posicionasse rapidamente. Beatriz Battistella Nadas, responsável pela pasta, anunciou a demissão do técnico e prometeu adotar novos critérios rigorosos para contratação de pessoal. Além disso, um canal de ouvidoria foi reforçado para que possíveis vítimas possam se manifestar e receber suporte.
Outros hospitais onde Wesley trabalhou também estão sob escrutínio. Instituições como o Hospital Pequeno Príncipe e o Hospital do Rocio afirmaram, em nota, que não havia registros de queixas anteriores contra o técnico. A investigação atual busca identificar os locais filmados nas imagens apreendidas, cruzando datas e cenários em que Wesley atuou. A delegada Manzatto acredita que as evidências sugerem que os abusos podem ter ocorrido em mais locais, desmentindo a versão de Wesley de que os atos aconteceram apenas na sala de estabilização da UPA.
O Coren-PR também entrou em cena, manifestando repúdio e iniciando uma investigação ética. O Conselho promete medidas rigorosas para apurar a conduta profissional, que já manchou a credibilidade de uma classe que trabalha diuturnamente para salvar vidas.
O caso trouxe à tona a urgência de se repensar protocolos e de fortalecer mecanismos de supervisão em unidades de saúde, públicas e privadas. Se por um lado a investigação da PCPR busca justiça para as vítimas e responsabilidade por parte do acusado, por outro, serve de alerta para que instituições redobrem esforços em garantir que seus quadros sejam compostos por profissionais que honrem os princípios éticos da profissão. Enquanto as investigações seguem para sua conclusão, a sociedade paranaense assiste, incrédula e esperançosa, para que justiça seja feita e medidas sejam implementadas para evitar que histórias como essa se repitam.