Nos últimos tempos, a internet via satélite tem se tornado um tema cada vez mais relevante, especialmente no Brasil, onde a empresa Starlink, do bilionário Elon Musk, tem se destacado como a líder de mercado. No entanto, a dependência do Brasil em relação a essa empresa gerou preocupações, especialmente após a crise entre Musk e as autoridades brasileiras. Para diversificar e minimizar essa dominância, os governos do Brasil e da China estão em negociações para implementar um novo plano que pode transformar o cenário da internet via satélite no país.
A SpaceSail, uma empresa privada chinesa de satélites, planeja entrar no mercado brasileiro com a expectativa de lançar 15 mil satélites até 2030. Esse projeto ambicioso foi confirmado pelo secretário de telecomunicações do Ministério das Comunicações, Hermano Barros Tercius, e coincide com a visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao Brasil no dia 20 de novembro, onde devem ser assinados memorandos de entendimento que abrirão portas para a operação da empresa no país.
A situação é intrigante. A Starlink detém atualmente 45,9% do mercado de internet via satélite no Brasil, segundo dados da Anatel, o que a torna uma gigante em um setor vital para áreas remotas do país, como a Amazônia. O que muitos não sabem é que a SpaceSail já tem 18 satélites em órbita baixa, a uma distância de 549 km da Terra, o que permite uma comunicação mais rápida e eficiente em comparação com os satélites convencionais.
Os contatos entre a SpaceSail e o governo brasileiro começaram em agosto, com uma reunião entre o presidente da empresa, Jie Zheng, e o vice-presidente Geraldo Alckmin. O plano é que a SpaceSail inicie suas operações no Brasil até 2025, mas para isso, a empresa precisará da autorização da Anatel para construir a infraestrutura necessária. Segundo Tercius, um dos acordos em negociação inclui a colaboração técnica entre os dois países para facilitar a entrada da SpaceSail no mercado.
Esse movimento também pode ser visto como uma resposta à crescente tensão entre Musk e as autoridades brasileiras, especialmente após a suspensão do serviço do X (ex-Twitter) no Brasil, que foi um reflexo da recusa da plataforma em obedecer a ordens do Supremo Tribunal Federal (STF). Esse contexto gerou desconfiança sobre a dependência do país em relação à Starlink e sua capacidade de manter operações ininterruptas.
Além da busca por novos fornecedores de internet via satélite, o governo brasileiro também está explorando a possibilidade de usar o Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, para lançar satélites da SpaceSail, o que não só ajudaria a agilizar o processo como também traria benefícios econômicos ao Brasil.
A situação destaca a importância da diversificação no setor de telecomunicações, principalmente em um país com a vastidão territorial e as dificuldades de acesso à internet em áreas remotas. O governo brasileiro está determinado a evitar a formação de monopólios e a promover a concorrência no mercado, o que pode levar a um serviço mais acessível e de melhor qualidade para a população.
Com a assinatura dos memorandos, se concretizada, o Brasil pode abrir uma nova era de conectividade via satélite, reduzindo a dependência de uma única empresa e fortalecendo sua soberania no setor. Essa é uma estratégia não apenas de mercado, mas também política, que pode redefinir o cenário da internet no país e colocar o Brasil em uma posição mais forte em um mundo cada vez mais digitalizado.
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