A conversa nos bastidores do Senado anda agitada, e não é por menos: a sucessão na presidência da Casa tem movimentado os corredores de Brasília e promete ser um jogo de forças que interessa, e muito, tanto à oposição quanto ao governo. Jair Bolsonaro (PL) saiu com uma afirmação polêmica nesta quarta (6), dizendo que está praticamente fechado um acordo para que o senador Marcos Pontes (PL-SP), do seu próprio partido, assuma a vice-presidência do Senado ao lado de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que concorre novamente à presidência da Casa em 2025.
Numa entrevista em rede social, Bolsonaro explicou que a conversa foi longa e incluiu o senador Rogério Marinho, líder da oposição. O ex-presidente não escondeu o desejo de aproximar a oposição de Alcolumbre para garantir alguma influência, principalmente em tempos onde as comissões da Casa não têm senadores do PL, o que limita as ações do partido, como convocar ministros para esclarecimentos. Bolsonaro disse: "Conversamos com o Alcolumbre. Alguns acham que não pode conversar com ele, então vamos conversar com quem? Vocês querem lançar o Marcos Pontes como candidato ao Senado? Quem vota? São os senadores.”
Ainda que Bolsonaro demonstre segurança no acerto, a resposta entre os líderes políticos não é tão unânime quanto parece. Interlocutores do PL não confirmam que há uma articulação oficial, e o presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, foi pego de surpresa com a candidatura de Pontes para um cargo na Mesa Diretora, sem alinhamento prévio com a cúpula do PL. Essa falta de clareza, aliada ao apoio que Alcolumbre já tem angariado de siglas como União Brasil, PDT, PSB, PP, e até do próprio PL, cria um cenário de incertezas e deixa o espaço aberto para negociações até o último minuto.
Davi Alcolumbre já conta com o apoio declarado de seis partidos, que juntos somam 38 votos, um número expressivo, considerando que são 81 senadores no total. Além disso, ele ainda busca fechar com o PT, que tem nove senadores. Nesse tabuleiro, quem deu uma declaração enfática de apoio ao senador amapaense foi o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Pacheco deixou claro que tem um respeito pessoal e institucional por Alcolumbre, lembrando que o atual candidato foi peça-chave em seus dois mandatos à frente do Senado. Mesmo com o aval de Pacheco, o PSD, que tem a maior bancada, ainda fará uma reunião para deliberar oficialmente sobre o apoio.
A eleição da Mesa Diretora é um jogo que define a política interna do Senado pelos próximos dois anos. Com 11 cargos em disputa, incluindo o de presidente, dois vice-presidentes e oito secretários, a composição que sair dessa votação tem o potencial de influenciar a dinâmica do Congresso, tanto em relação ao governo quanto à oposição. Cada uma dessas posições é estratégica para a definição de pautas, a tramitação de projetos e até a convocação de autoridades.
Fevereiro de 2025 está logo ali, mas o que acontece agora é apenas a ponta do iceberg. Nos bastidores, cada declaração, reunião e articulação de alianças fazem parte de um cálculo político detalhado. Com Bolsonaro tentando garantir alguma voz na Mesa Diretora e Alcolumbre buscando expandir seu arco de apoios, o Senado vive um momento onde, mais uma vez, quem tem maior habilidade de negociação sairá vitorioso. É um tabuleiro em constante movimento, onde cada apoio pode definir o rumo das pautas mais importantes do país.