O assassinato de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, delator do PCC ao Ministério Público, causou um verdadeiro rebuliço no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Em plena luz do dia, no terminal de desembarque, o empresário foi abatido com tiros de fuzil disparados de um Gol preto, logo depois encontrado abandonado em uma comunidade próxima, deixando um rastro de pânico e sangue. Dentro do veículo, a polícia achou munições e um colete, reforçando a suspeita de que a ação foi meticulosamente planejada como uma queima de arquivo.
Vinicius, que vinha colaborando com o Ministério Público, estava no centro de investigações explosivas, denunciando esquemas de lavagem de dinheiro ligados ao PCC. O empresário revelou um complexo esquema de lavagem que movimentou mais de R$ 30 milhões, usando transações imobiliárias e compras de postos de gasolina. Ele assinou um acordo de delação premiada em março deste ano e vinha prestando depoimentos frequentes, sendo o último há apenas duas semanas.
O atentado deixou três inocentes feridos gravemente: dois motoristas de aplicativo e uma mulher que estava na calçada quando os disparos começaram. O cenário de caos foi ampliado por outro tiroteio nas proximidades do Hotel Pullman, a poucos metros do aeroporto. Segundo a polícia, a execução foi fria e precisa, com os atiradores escapando sem deixar rastros imediatos.
A trama de vingança e traição que envolve Vinicius não começou hoje. Ele teria ordenado a morte de dois integrantes do PCC — Cara Preta e Sem Sangue — em dezembro de 2021, o que intensificou as tensões com a facção. O próprio empresário, além de estar no meio de esquemas de lavagem, participava de tribunais do crime, onde decisões sobre execuções de membros desleais eram tomadas. Essa atuação dupla, de colaborador e algoz, pode ter selado seu destino.
A emboscada parece ter sido facilitada por uma falha na segurança. Vinicius estava retornando de Goiás, acompanhado da namorada e do filho. Os seguranças contratados, todos policiais militares, tiveram um imprevisto quando o carro quebrou a caminho do aeroporto. Apenas um deles conseguiu chegar a tempo, levando o filho de Vinicius para esperá-lo, mas isso não foi suficiente para evitar o ataque. A cena foi rápida e brutal: assim que Vinicius saiu do terminal, foi surpreendido pelos disparos. O filho, ainda em estado de choque, teria presenciado o assassinato do pai.
As investigações estão nas mãos do DHPP e da DEATUR, já que o crime ocorreu na área externa do aeroporto, sob jurisdição da Polícia Civil. A hipótese de execução e queima de arquivo é a mais forte até agora. Todos os seguranças, a namorada de Vinicius e testemunhas serão ouvidos. A pergunta que fica é se alguém de dentro facilitou o ataque, sabendo dos passos do empresário e aproveitando a vulnerabilidade do momento.
Esse caso expõe ainda mais o lado obscuro da atuação do PCC e os riscos enfrentados por quem decide romper o pacto de silêncio, especialmente quando envolve denúncias pesadas contra a própria facção e supostos esquemas de extorsão envolvendo a polícia. Agora, com a morte de Vinicius, muita coisa pode morrer junto com ele — e o silêncio imposto a balas talvez tenha sido o verdadeiro objetivo dessa execução brutal.
A queima de arquivo no Aeroporto de Guarulhos é a prova de que vivemos em um Narcoestado. pic.twitter.com/5rVCMhzBB9
— Lucas Pavanato (@lucaspavanato) November 8, 2024