O assassinato do empresário Antônio Vinicius Gritzbach, ocorrido na última sexta-feira (8) no Aeroporto de Guarulhos/SP, é mais um capítulo de um enredo digno de série policial. O depoimento que ele prestou à Corregedoria da Polícia Civil em setembro, revelado agora, indica uma rede de corrupção e acerto de contas que envolvem policiais e membros do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do Brasil.
No depoimento, Vinicius confessou ter desembolsado nada menos que R$ 10 milhões para garantir sua "salvação" de um inquérito no qual era acusado de duplo homicídio. A cifra foi acordada após uma barganha tensa, já que os policiais teriam inicialmente pedido R$ 40 milhões. O empresário também teria sido alertado de que sua cabeça valia R$ 3 milhões, uma ameaça clara de que estava com o pescoço na guilhotina, tanto do lado da policial quanto do lado do crime organizado.
As acusações contra Vinicius vinham de uma suposta execução ordenada por ele contra dois membros do PCC. Tudo começou quando ele soube que estava na mira da facção devido a um prejuízo colossal de R$ 40 milhões, resultado de uma operação mal-sucedida de lavagem de dinheiro envolvendo criptomoedas. Em uma tentativa arriscada de se livrar da perseguição, o empresário teria optado por investir na comercialização de criptoativos, mas a jogada saiu pela culatra, irritando seus “parceiros” no submundo do crime.
O relato de Vinicius chamou a atenção do Ministério Público, que decidiu compartilhar trechos de sua delação com a Corregedoria. A prioridade da polícia foi ouvir o empresário antes de convocar os policiais suspeitos, justamente pelo risco evidente que ele corria. A escolha se mostrou acertada, mas insuficiente: dois meses após a oitiva, Vinicius foi assassinado em plena luz do dia, num dos maiores aeroportos do país, o que demonstra a ousadia e o poder dos envolvidos.
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, não tardou em tomar medidas após a morte do empresário. Ele determinou o afastamento dos quatro policiais civis citados no depoimento de Vinicius, numa tentativa de limpar a imagem da corporação e evitar um desgaste ainda maior. A própria secretaria confirmou o afastamento, mostrando que a denúncia não caiu em ouvidos surdos.
O caso de Vinicius Gritzbach expõe um problema grave e sistêmico: a promiscuidade entre crime organizado e forças de segurança. Quando um empresário consegue negociar propinas milionárias e ainda assim ser executado, isso aponta para uma estrutura corrompida em diversos níveis. E não se trata de um caso isolado — é um reflexo da falência do sistema de segurança pública, onde quem deveria garantir a ordem acaba compactuando com a desordem.
O cenário é assustador: uma facção poderosa, um empresário desesperado e policiais que atuam mais como cúmplices do que como agentes da lei. O resultado é o caos e a sensação de que ninguém está seguro. A execução de Vinicius não foi apenas um recado para quem ousar enfrentar o PCC, mas também uma demonstração de que o dinheiro pode comprar muito, mas não compra a vida.