Era uma e pouco da madruga, a noite já tava mais virada que feijão na panela de pressão, quando o nosso querido protagonista — vamos chamar ele de Zé — apareceu lá no 21º BPM, com cara de quem tinha levado uma baita invertida da vida. Tava arrastando os pés e com aquele olhar meio perdido, igual gente que acabou de acordar do cochilo pós-feijoada.
— Fui roubado! — disse ele, com a voz meio embargada.
Segundo a PM, a história era digna de novela mexicana ou de filme da saudosa sessão da tarde. O Zé, animado num evento de boteco no bairro Padre Ulrico, conheceu uma mulher. Conversa vai, conversa vem, cervejinha desce, e o Zé já tava se achando o Dom Juan do sudoeste. Lá pelas tantas, a mulher, com aquele olhar cheio de promessas e truques, convidou o Zé pra conhecer a casa dela. E o Zé, que não foge de uma "boa oportunidade", aceitou na hora, se achando o rei da cocada preta.
Chegando lá, opa, surpresa! Tinha mais um casal no recinto. E aí o Zé já devia ter sentido o cheiro de treta no ar, mas, como dizem por aqui, cachorro mordido de cobra tem medo até de linguiça, mas esse não era o caso. Ele entrou sem titubear. E foi aí que o caldo engrossou de vez.
De repente, a nova companhia e a outra mulher puxaram uma faca que parecia mais afiada que a língua da vizinha fofoqueira. Mandaram o Zé passar o dinheiro. O homem, talvez inspirado pelo orgulho masculino ou pela pinga, se recusou a entregar. Que valente! Só que o heroísmo durou pouco, porque na sequência mandaram ele tirar a roupa. O Zé obedeceu, ficando igual passarinho depenado em frente à serpente.
Lá se foram: celular, carteira com míseros 70 pila e a carteira de habilitação — essa última foi só pra humilhar mesmo. Afinal, pra quê as mulheres ia querer uma CNH com a foto de um homem? Depois do saque, as meliantes ainda quiseram saber se tinha mais “gaita” em casa. E o Zé, que de rico só tinha a ilusão, respondeu que só tinha um botijão de gás.
— Então vamos buscar o botijão, tiozão! — ordenaram, com a faca apontada.
Quando mandaram ele vestir a roupa de novo pra buscar o pobre botijão, foi a deixa. O Zé, num lampejo de esperteza e desespero, saiu mais ligeiro que gato fugindo de água fria. Entrou na casa de um vizinho que devia estar dormindo o sono dos justos e gritou por socorro. Depois de se acalmar e juntar as partes da dignidade que ainda sobravam, foi pra delegacia relatar o “causo”.
A polícia até deu uma banda pelo bairro, mas o Zé tava tão confuso que não conseguia nem lembrar onde era a tal casa. No fim, ficou só o Boletim de Ocorrência e uma lição de vida: desconfie de boas intenções depois da meia-noite, principalmente se envolver gole no meio, que pode terminar em faca e quem sabe a perda do botijão de gás.
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