A decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de suspender o pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares e ordenar a abertura de um inquérito pela Polícia Federal (PF) na manhã de hoje (23), gerou um novo capítulo na controvérsia sobre a liberação de recursos no Congresso Nacional. A medida foi tomada após o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) entrar com uma ação, destacando irregularidades no processo de liberação dessas emendas sem seguir os ritos legais estabelecidos.
A ação questiona a decisão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de suspender o funcionamento das comissões da Casa, o que impediu os colegiados de deliberarem sobre o destino das emendas de comissão. Além disso, o PSOL contesta a assinatura de 17 líderes partidários em um ofício que pedia o pagamento de mais de 5.400 emendas, incluindo novas indicações no valor de R$ 180 milhões, sendo R$ 73,8 milhões direcionados ao estado de Alagoas, reduto eleitoral de Lira. Segundo o deputado Glauber Braga (RJ), essa ação tem como objetivo substituir o papel do presidente da Câmara na deliberação das emendas, o que, para ele, configura uma violação das normas constitucionais.
Flávio Dino, ao acatar a solicitação do PSOL, determinou que a Câmara dos Deputados publique, no prazo de cinco dias corridos, as Atas das reuniões das Comissões Permanentes nas quais foram aprovadas as emendas em questão. O ministro também orientou o Ministério da Saúde a notificar gestores estaduais e municipais para manterem os recursos das emendas bloqueados nas contas, enquanto a investigação sobre os processos de liberação e execução dos recursos continua.
A decisão de Dino não se limita apenas a essas medidas corretivas imediatas. Em seu despacho, ele faz uma crítica direta ao que considera serem práticas incompatíveis com a ordem constitucional, mencionando denúncias recorrentes de obras malfeitas, desvios de verbas e apreensões de dinheiro em operações policiais, que têm abalado a confiança pública nas instituições responsáveis pela administração dos recursos públicos. Essa crítica reflete uma preocupação maior com a governança, a transparência e o cumprimento rigoroso da lei.
O ministro também estabeleceu que o governo só poderá executar as emendas parlamentares de 2025 após a implementação das medidas corretivas que ele determinou, como a adequação do Portal da Transparência e a plena conformidade com as decisões do STF. Para garantir que o processo seja transparente e bem gerido, Dino convocou audiências de contextualização e conciliação para o início de 2025, quando as Mesas Diretoras das Casas Parlamentares e as Comissões Permanentes já terão sido substituídas.
A disputa sobre o pagamento das emendas parlamentares vem se arrastando desde agosto, quando o STF suspendeu o repasse dos recursos, e a pressão de congressistas por uma solução não cessou. Em dezembro, Dino havia liberado o pagamento, mas com regras mais rígidas, incluindo a identificação dos parlamentares responsáveis pelas emendas de bancada e de comissão, e uma nova fórmula de correção dos valores, limitando consideravelmente o crescimento das emendas, que antes eram vistas como uma forma de “favores políticos”. A medida foi amplamente apoiada pelos ministros do STF, que confirmaram a decisão.
Em um cenário de constante pressão sobre o governo para a votação de propostas de interesse político, o Supremo Tribunal Federal, sob a liderança de Dino, tem buscado trazer mais clareza e controle sobre os processos de liberação e execução das emendas parlamentares. O desenrolar dessas medidas e investigações poderá ter um impacto profundo na forma como o sistema de emendas será conduzido nos próximos anos, visando garantir maior transparência e responsabilidade no uso dos recursos públicos.
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