O presidente Lula (PT), durante evento em que rememorava os dois anos dos atos considerados golpistas pelo Supremo, acabou deslizando em uma fala improvisada que gerou polêmica e descontentamento, até mesmo de sua esposa, Janja. Em um discurso que deveria exaltar a democracia e os direitos humanos, o presidente fez uma analogia infeliz, comparando a paixão de "amantes pela amante" com a relação de valor que alguém teria pela democracia, deixando no ar um tom de machismo e desrespeito.
"Na maioria das vezes, os amantes são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres", disse Lula, sob o olhar reprovador de Janja, que reagiu visivelmente ao comentário. A fala repercutiu mal, não só entre os presentes, mas também na mídia e nas redes sociais. A colunista Cris Fibe, do UOL, foi contundente em sua crítica, chamando a declaração de machista e desrespeitosa, principalmente em um contexto que deveria reforçar a igualdade de gênero e os direitos das mulheres.
O Contraste entre Discurso e Ação
Lula, conhecido por sua trajetória política que mistura fortes discursos em defesa de valores progressistas e falas espontâneas, muitas vezes improvisadas, deixou escapar um exemplo claro de como o machismo estrutural pode se manifestar até em líderes que pregam a igualdade. Esse comportamento gera um contraste evidente: como é possível defender a democracia e os direitos humanos, citando a igualdade de gênero, enquanto se reproduz um discurso que reforça estereótipos e diminui o papel da mulher?
Cris Fibe apontou uma questão pertinente: se a democracia é vista como a amante apaixonante, o que seria a "mulher oficial"? A comparação, ainda que pareça metafórica, reflete valores que podem ser entendidos como arcaicos e ofensivos, principalmente quando dirigidos a um público que luta por maior representatividade e respeito.
A Janela de Contradição
A situação se torna ainda mais simbólica por envolver Janja, a primeira-dama, que tem sido uma figura de destaque na promoção de pautas progressistas ao lado de Lula. A reação dela ao discurso foi um lembrete silencioso, mas eloquente, de que mesmo aliados precisam estar atentos aos valores que dizem defender.
A Importância de Cobrança Constante
O espectro político de Lula — progressista e defensor da igualdade — exige uma postura coerente. Não basta apenas discursar sobre democracia e direitos humanos; é fundamental que as ações e palavras reflitam esses ideais de maneira íntegra. O machismo ou incentivo a infidelidade tão profundamente enraizado na sociedade brasileira, não será combatido com discursos ensaiados, mas com uma transformação genuína nas práticas e nas atitudes cotidianas.
É necessário, portanto, que aliados, movimentos sociais e eleitores sigam cobrando consistência e cuidado, não só de Lula, mas de qualquer liderança política que se proponha a representar pautas de igualdade. Afinal, o compromisso com a democracia e os direitos humanos precisa transcender discursos e ganhar forma em ações e atitudes que realmente honrem esses princípios.
Seja na improvisação ou na formalidade, líderes como Lula têm a responsabilidade de agir como exemplos. Falar em igualdade e depois "meter os pés pelas mãos", como bem pontuou Cris Fibe, apenas reforça as contradições que afastam a sociedade de um progresso real e duradouro.
Fonte: UOL
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