Nesta sexta-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou uma reunião estratégica com ministros e técnicos do governo para debater formas de aliviar o bolso do brasileiro no supermercado. A insatisfação de Lula, manifestada na última segunda-feira (20), colocou em xeque os altos preços de comidas e bebidas, que continuam pressionando a inflação e a popularidade do governo.
Estiveram presentes no encontro os ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), além de outros representantes estratégicos, como Márcio Elias Rosa, da Indústria e Comércio, e Edegar Pretto, presidente da Conab. A missão era clara: apresentar propostas concretas à Casa Civil e avançar no plano para segurar os preços dos alimentos.
Propostas na mesa
Duas ideias já ganham força no debate interno. A primeira, defendida por Haddad, busca estimular a concorrência entre administradoras de cartões de alimentação e refeição. A ideia é permitir a portabilidade desses vales, forçando a redução das taxas cobradas pelas operadoras, que atualmente variam entre 1,5% e 3%. Isso poderia criar um efeito dominó, com benefícios para consumidores e comerciantes, reduzindo os custos no ponto final.
A segunda medida, liderada por Paulo Teixeira, é mais robusta e visa criar uma rede de abastecimento popular nas periferias do país. O programa, avaliado em R$ 1,2 bilhão, teria como foco garantir alimentos mais acessíveis às classes C e D. O governo trabalharia para identificar as regiões mais carentes e os itens prioritários para essa rede, promovendo uma oferta com preços ajustados à realidade dessas famílias.
Uma outra proposta, sugerida pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que flexibilizaria as regras de validade de alimentos – a chamada "xepa" – foi descartada. Segundo o governo, a medida poderia trazer problemas regulatórios e impactos na saúde pública.
A preocupação com a inflação
A pressão para controlar os preços dos alimentos não é apenas econômica, mas também política. Em 2024, a inflação oficial ficou em 4,83%, com a categoria de alimentos e bebidas subindo 7,69%, liderando os aumentos no IPCA. Esses números refletem diretamente no humor do eleitorado. Pesquisa Datafolha de dezembro passado mostrou que o governo Lula tem 35% de aprovação (ótimo/bom), mas enfrenta uma rejeição quase equivalente, com 34% avaliando a gestão como ruim ou péssima. Para Lula, que iniciou 2025 com desafios na economia, conter os preços dos alimentos é uma forma de reconquistar a confiança do povo e melhorar a imagem do governo.
Desafios e futuro
As iniciativas mostram que o governo está buscando caminhos práticos para lidar com a crise alimentar e a inflação, mas o desafio é grande. Medidas como a rede de abastecimento popular demandam coordenação, recursos e eficiência, enquanto a portabilidade dos vales precisa passar pelo crivo de parlamentares e ajustes no setor privado. O sucesso ou fracasso dessas ações pode definir não apenas o custo da cesta básica, mas também os rumos do cenário político nos próximos meses.
Se Lula conseguir entregar soluções palpáveis, pode reverter a percepção pública e fortalecer seu governo. Caso contrário, a pressão nos supermercados continuará ecoando nas urnas.
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