Em um município pequeno como Bom Jesus do Sul, no Paraná, onde todos se conhecem e a vida transcorre em um ritmo mais tranquilo, a notícia da exoneração de uma médica pública chamou a atenção da comunidade. A profissional, que atuava como residente no quadro de saúde do município, decidiu pedir exoneração após enfrentar uma série de pressões que, segundo ela, tornaram seu trabalho insustentável. O caso, revelado pelo vice-prefeito Cezar Bueno (PSD) em entrevista à Rádio Fronteira, expõe uma realidade complexa e muitas vezes invisível: o fogo cruzado entre pacientes, familiares, empresas e a administração pública na questão dos atestados médicos.
Brenda, a médica, alegou em seu pedido de exoneração que sofria pressões constantes de pacientes e seus familiares para emitir atestados médicos. Segundo Cezar Bueno, ela acabou sendo colocada em uma situação delicada, onde precisava equilibrar a necessidade de cuidar da saúde dos pacientes com as demandas externas que chegavam até ela. De um lado, estavam os trabalhadores e estudantes que, muitas vezes, buscavam o atestado para justificar faltas ao trabalho ou à escola. Do outro, as empresas e instituições que pressionavam a administração municipal, preocupadas com o suposto excesso de atestados emitidos.
O vice-prefeito foi enfático ao afirmar que ninguém deve trabalhar doente ou com dor, mas reconheceu que como não existe um "detector de dores" torna a situação ainda mais complicada. Tudo acaba se resumindo à boa fé entre o paciente e o médico, uma relação que deveria ser pautada pela confiança, mas que, na prática, muitas vezes é abalada por interesses conflitantes. No caso da médica de Bom Jesus do Sul, essa dinâmica gerou um nível de estresse tão alto que a levou a deixar o posto.
A situação revela um problema que vai além do município paranaense e reflete um desafio enfrentado por muitos profissionais da saúde pública no Brasil. A pressão por atestados médicos não é algo novo, mas em cidades menores, onde as relações pessoais e profissionais estão mais próximas, o impacto pode ser ainda maior. A médica, ao que tudo indica, não estava preparada para lidar com essa carga emocional e psicológica, que acabou por afetar sua saúde e seu desempenho profissional.
Cezar Bueno, em sua entrevista, tentou equilibrar o discurso, reconhecendo a importância do trabalho dos médicos e ao mesmo tempo destacando as dificuldades enfrentadas pela administração pública. Ele deixou claro que a médica não foi pressionada diretamente pela prefeitura, mas sim por um conjunto de fatores externos que criaram um ambiente de trabalho hostil. Ainda assim, a perda de uma profissional qualificada é um duro golpe para um município que, como tantos outros no interior do país, já enfrenta dificuldades para manter um quadro de saúde completo e eficiente.
O caso da médica de Bom Jesus do Sul serve como um alerta para a necessidade de se discutir com mais profundidade as condições de trabalho dos profissionais da saúde pública, especialmente em cidades menores. A pressão por atestados médicos é apenas a ponta do iceberg de um problema maior, que envolve a falta de recursos, a sobrecarga de trabalho e a falta de apoio psicológico para os profissionais. Enquanto não houver uma mudança estrutural, histórias como essa continuarão a se repetir, deixando não só os médicos, mas toda a população, em uma situação de vulnerabilidade.
No fim das contas, a exoneração da médica é um sintoma de um sistema que precisa ser repensado. E, como bem lembrou Cezar Bueno, a saúde é um direito de todos, mas também é um dever de todos respeitar e valorizar aqueles que dedicam suas vidas a cuidar dos outros.
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