Num feito que mistura ironia, eficiência e um tanto de humor, um grupo de oito castores deixou o governo da República Tcheca com a boca aberta ao construir, em apenas duas noites, uma barragem que estava parada na prancheta há mais de sete anos. A obra, que custaria mais de 30 milhões de coroas tchecas (algo em torno de R$ 7,1 milhões), foi realizada de graça e sem burocracia pelos pequenos engenheiros da natureza. O caso, que viralizou nas redes e ganhou destaque na mídia internacional, é um exemplo curioso de como a natureza, às vezes, sabe mais do que nós.
O plano do governo era restaurar o curso do rio Moldava, que havia sido alterado anos atrás por obras de uma base militar abandonada. A ideia era devolver o rio ao seu leito original, mas o projeto enfrentava uma série de entraves, principalmente por se tratar de uma área protegida. Enquanto as autoridades brigavam com licenças ambientais e papeladas, os castores, que não precisam de autorização para nada, meteram a mão na massa — ou melhor, nos galhos — e fizeram o serviço em tempo recorde.
Bohumil Fiser, chefe da Administração da Área de Paisagem Protegida de Brdy, não escondeu a surpresa ao comentar o caso em uma entrevista à rádio Prague International. "Eles construíram sem documentação e de graça", disse, com um tom de admiração e certo humor. Já Jaroslav Obermajer, chefe da Agência Tcheca de Proteção da Natureza e da Paisagem (AOPK), foi ainda mais enfático: "Castores sempre sabem mais. Os locais onde constroem as barragens são sempre escolhidos da maneira certa — melhor do que quando projetamos no papel."
A habilidade dos castores para construir barragens é algo que impressiona até os especialistas. Esses roedores semi-aquáticos usam troncos, galhos e lama para bloquear a corrente de rios e riachos, criando áreas alagadas onde constroem suas tocas. Essas estruturas não só oferecem proteção contra predadores, mas também criam um ecossistema único, que beneficia diversas outras espécies. No entanto, nem sempre as obras dos castores são bem-vindas. Em algumas regiões, como na área de Orlickoustec, as barragens construídas por esses animais chegaram a inundar campos agrícolas e até uma linha de trem, causando transtornos para os humanos.
O caso da barragem no rio Moldava, porém, foi diferente. Em vez de causar problemas, os castores resolveram um. E fizeram isso com uma eficiência que deixou o governo no chinelo. Enquanto os humanos levavam anos discutindo orçamentos, licenças e projetos, os castores simplesmente agiram. E o mais curioso é que, ao contrário de muitas obras humanas, a barragem construída pelos animais foi feita de forma totalmente sustentável, sem máquinas pesadas, sem emissão de poluentes e sem impacto negativo ao meio ambiente.
A história dos castores tchecos é um lembrete de que, às vezes, a natureza tem as respostas que nós, com toda a nossa tecnologia e conhecimento, ainda não conseguimos enxergar. E também serve como uma lição de humildade: enquanto os humanos se perdem em burocracias e disputas, os castores seguem fazendo o que sabem de melhor — construir, adaptar e sobreviver. No final das contas, como bem disse Obermajer, os castores sempre sabem mais. E, pelo visto, também trabalham mais rápido.
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