Araçatuba, interior de São Paulo, tava de boa num dia quente de fevereiro, quando o Ringo, um cavalo que já é praticamente uma lenda local, resolveu dar um passeio solo de mais de dois quilômetros até o hospital veterinário. Isso mesmo, o bicho saiu trotando, sem GPS, sem Uber, sem nada, e chegou direitinho no lugar onde ele já tinha sido "internado" um mês antes. Chegou lá com aquele ar de quem fala: "Oi, gente, tô de volta, cadê meu café com pão de queijo?"
Os funcionários do hospital ficaram de queixo caído, tipo "ué, esse cavalo agora é cliente VIP?". A tutora do Ringo, uma mulher que é quase a Dona Florinda dos bichos abandonados – cuida de tudo que é bicho desde os 10 anos –, ficou desesperada procurando o danado. "Cadê o Ringo? Sumiu, meu Deus do céu, será que fugiu pra ir em alguma feira pegar um xepa?" Até que alguém liga: "Olha, teu cavalo tá aqui no veterinário, passando como se fosse o dono do pedaço."
Pra quem não sabe, o Ringo não é qualquer cavalo. O coitado foi resgatado há pouco tempo depois de apanhar mais que o joelho de um jogador de futebol na final do campeonato. O ex-tutor, um sem-noção que devia ter nascido com casco no lugar da cabeça, deixou o bicho em frangalhos: boca inchada, casco arrancado com facão – um horror que nem novela das nove explica. Aí um tutor, que é um anjo com cheiro de café coado, levou ele pro hospital veterinário da prefeitura, que é tipo o SUS dos bichos por lá. Ficou internado até o dia 6 de janeiro, tomando injeção, comendo ração de primeira e, quem sabe, até assistir reprise de novela com as enfermeiras.
Passa um mês, dia 10 de fevereiro, e o Ringo, que tava de boa na propriedade rural da tutora, resolveu dar uma escapada. O portão ficou aberto – coisa que no Paraná a gente já sabe que é igual convidar o cachorro do vizinho pra entrar e comer o resto do churrasco. Ele viu a brecha e falou: "Bora ali no veterinário, saudade daquele pessoal que me enche de carinho e me dá remédio na veia." E lá foi ele, trotando dois quilômetros, com o vento batendo na crina, como se fosse o rei da estrada – ou pelo menos o rei da BR-369.
Chegando lá, imagine a cena: os alunos e os funcionários do hospital vendo aquele cavalo entrando pelo portão, todo faceiro, com cara de quem está voltando pra uma consulta de rotina. "Oi, doutor, minha boca tá inchada de novo, e esses cascos, hein, tão precisando de um trato!" A tutora, quando soube, caiu na gargalhada depois do susto. "Esse cavalo é mais esperto que eu! Já sabe o caminho do médico melhor que muito marmanjo por aí."
Agora, o Ringo está de volta na propriedade, sob os cuidados dessa mulher que é praticamente a mãe dos bichos perdidos. Mas fica uma dúvida: será que ele não dará outra fuga para visitar os amigos veterinários? Porque, cá entre nós, esse cavalo tem mais história pra contar que avô na roda de chimarrão. E se duvidar, da próxima vez ele leva um bolo pra agradecer o atendimento – porque o Ringo, meus amigos, parece um cavalo paranaense de coração: trabalhador, inteligente e não perde uma chance de fazer amizade!
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