Na tarde da última segunda-feira (03), o sol de Francisco Beltrão parecia pesar mais do que o normal sobre os ombros de quem se amontoava em frente ao Serviço Médico Legal (SML). Era um calor abafado, típico do interior do Paraná, mas o que sufocava mesmo era a revolta e a tristeza que tomava conta dos familiares de vítimas de mortes violentas. Gente simples, de fala mansa e coração apertado, que só queria dar um jeito digno de se despedir dos seus. Seis corpos — cinco de acidentes de trânsito e um de homicídio por arma de fogo — tavam ali, retidos, desde a madrugada e a noite do domingo (02).
A demora na liberação dos corpos virou o estopim pra um protesto que não tinha gritos altos, mas carregava uma indignação que ecoava fundo. Era família chorando a perda e, de quebra, enfrentando a burocracia que nem um aviso claro dava. Os enterros, as rezas, as últimas homenagens — tudo ficou parado, como se o luto também tivesse que esperar na fila. Quem já passou por essa terra sabe: no Paraná, a gente gosta de resolver as coisas com jeitinho, com conversa, mas ali, naquele dia, não tinha diálogo. Só silêncio oficial e um monte de perguntas sem resposta.
Teve a filha de Vilson Pallhano, um homem que perdeu a vida num acidente de moto lá em Nova Esperança do Sudoeste. Ela ficou o dia inteiro plantada na frente do SML, com os olhos inchados de tanto chorar e a paciência esgotada de tanto esperar. “A gente tá aqui desde cedo, e ninguém fala nada. É uma dor que não explica, perder o pai assim, e ainda ter que ficar mendigando respeito num momento esses”, disse ela, com a voz tremenda, mas firme o suficiente para mostrar o tamanho do descaso. Quem ouvia sentiu o peso daquelas palavras, porque não era só sobre o Vilson — era sobre todos que tavam na mesma sina.
Mais adiante, o Edson Oliveira contou sua história com um nó na garganta. Perdeu o irmão Mateus e a cunhada num acidente de moto, lá em Realeza, na noite de domingo. “Eu não sei o que é pior: a notícia da morte ou essa espera que não acaba. A gente quer enterrar eles, dar um adeus direito, mas ninguém diz o que está acontecendo. É um desrespeito que não cabe no peito”, desabafou ele, olhando pro chão como se procurasse ali alguma explicação que o SML não dava. O Edson não estava sozinho na revolta: uma mãe, que perdeu o filho baleado num homicídio em Francisco Beltrão, também absorveu o coro.
A reportagem do Diário da Informação tentou correr atrás de respostas, mas foi como bater em porta fechada. Ninguém do SML atendeu, ninguém explicou. O que se descobriu, fuçando aqui e ali, foi que o problema vinha de uma mudança na Polícia Científica do Paraná. Agora, todo corpo de morte violenta terá que ser identificado pela central de Curitiba. Coisa que, em tese, poderia até ser boa pra organizar as coisas, mas na prática, principalmente no fim da semana, vira um rolo. O processo, que já é duro por si só, ficou mais lento, mais frio, mais distante — e quem pagava o preço era quem tava ali, de pé, esperando pra levar o corpo para o velório e dizer adeus.
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