Quem nunca caiu numa lorota no primeiro de abril? O Dia da Mentira, comemorado nesta terça-feira, primeiro de abril, é aquele momento do ano em que a gente solta a imaginação, prega peças e espalha histórias bem boladas. Aqui no Paraná, a gente diria que é dia de "contar um causo" pra enganar os outros e dar umas risadas. Em Brasília, por exemplo, as "mentiras" sobre a própria cidade viraram parte do folclore dos moradores. É o que conta João Amador, um pesquisador que entende tudo da história da capital federal.
Segundo relatos do G1, Lá em Brasília, algumas dessas histórias são famosas. Tem gente que jura de pés juntos que as avenidas largas do Eixo Monumental e da Duque de Caxias, no Setor Militar Urbano, foram feitas pra avião pousar. Imagina só o alvoroço: um jato descendo no meio da cidade! Mas João Amador explica que isso é pura invenção. As avenidas são grandonas mesmo pra facilitar o trânsito, nada de pista de pouso. Outro causo que corre por lá é sobre túneis secretos ligando os prédios da Esplanada dos Ministérios. Dizem que, na época da construção da capital, entre os anos 1950 e 1960, o medo de golpe rondava o governo do Juscelino Kubitschek, e essa paranoia pode ter ajudado a criar essas lendas. Só que, segundo o pesquisador, nunca houve plano nenhum de túnel entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Um professor da UnB, o Benny Shvarsberg, até disse ao g1 em 2024 que existe, sim, uma saída de emergência no Planalto, mas túneis? Nem pensar.
E o que dizer do céu de Brasília? Tem uma história danada de boa que diz que ele foi tombado como patrimônio natural pelo Iphan. O pedido até rolou, lá em 2007, feito por um arquiteto chamado Carlos Fernando de Moura Delphim. A ideia era bonita, mas ficou só na vontade: o processo rodou uns anos e acabou engavetado em 2014. João Amador confirma: "O Iphan recebeu o pedido, mas tombar o céu não rola". Outra lorota é que todos os blocos das superquadras de Brasília terminam em J e K, supostamente pra homenagear o Juscelino Kubitschek. Mas o pesquisador joga água no chope dessa teoria: é só coincidência. Algumas superquadras têm 11 prédios, e, pelo alfabeto, os últimos acabam sendo J e K. Simples assim.
Agora, de onde vem essa mania de inventar essas coisas? O Dia da Mentira tem raízes antigas. Lá no século 16, o Papa Gregório 13 mexeu no calendário e mudou o ano novo de março pra janeiro. Na França, teve gente que não gostou nadinha disso e ficou resistantão. Pra tirar um sarro dos "revoltadinhos", começaram a convidar eles pra festas que nunca existiram, bem no dia primeiro de abril. Aqui no Brasil, a tradição também pegou. Em 1828, o jornal "A Mentira" publicou na capa que Dom Pedro I tinha morrido – tudo falso, claro, mas caiu como verdade pra muita gente na época.
Em Brasília, João Amador diz que essas lendas surgem da pura imaginação do povo. A cidade, construída do zero, com aquela arquitetura toda futurista e um monte de gente chegando de uma vez pra trabalhar, virou um caldeirão de histórias. "Quando tudo é novo e estranho, a mente voa", ele explica. A falta de uma história antiga pra se agarrar abriu espaço pra todo tipo de teoria maluca, de conspirações a causos curiosos. E assim, entre o fascínio e o mistério, as mentiras sobre Brasília foram passando de boca em boca, virando quase uma tradição tão forte quanto o próprio Dia da Mentira. No fim das contas, seja no Paraná ou na capital federal, o que a gente gosta mesmo é de um bom "causo" pra contar e rir depois.
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