Na última quarta-feira, dia 2, a Procuradoria-Geral da República (PGR) botou um ponto final – pelo menos por enquanto – numa polêmica que tava dando o que falar. O senador Randolfe Rodrigues, do PT do Amapá, tinha pedido uma investigação com base numa reportagem do Portal UOL, que jogou no ar a história de que a família Bolsonaro teria comprado 51 imóveis nos anos 90, muitos deles, supostamente, pagos em dinheiro vivo. A Gazeta do Povo trouxe a notícia fresquinha: a PGR mandou arquivar o pedido, e o parecer do vice-procurador Hinderburgo Chateaubriand veio carregado de argumentos que, pra quem lê com atenção, parecem fazer um baita sentido.
De cara, o vice-procurador já cortou o barato do senador: não tem indício concreto pra justificar abrir uma investigação criminal. Segundo ele, tudo que Randolfe trouxe pra mesa foi uma matéria jornalística – e só. Sem prova, sem documento, sem nada que desse um chão mais firme pra denúncia. “Tá tudo baseado num recorte de jornal, e isso não segura uma apuração séria”, diz o parecer, em outras palavras. E olha que o texto reforça: “Não estavam corroborados por nenhum indício concreto”. Ou seja, é como querer construir uma casa sem cimento – pode até ficar de pé por um tempo, mas logo desaba.
E tinha mais problema no pedido do senador. Ele jogou no caldeirão a “família Bolsonaro” como se fosse tudo uma coisa só: filhos, ex-mulheres, até a mãe do ex-presidente entraram na dança, sem que o pedido dissesse quem fez o quê ou como cada um tava ligado aos tais imóveis. Imagina só: são mais de 30 anos de transações, misturando um monte de gente diferente, e o Randolfe não apontou uma linha clara ligando isso a algum crime. A PGR olhou pra essa salada e falou: “Assim não dá, né? Não tem como sustentar um pedido desses sem um mínimo de foco”.
Outro ponto que o parecer pegou pesado foi na tentativa de amarrar essa história dos imóveis com o tal “esquema de rachadinha”, que já ronda dois filhos do Bolsonaro há um tempo. Randolfe quis fazer um malabarismo, sugerindo que os pagamentos em espécie poderiam ser lavagem de dinheiro vindo dessas investigações ainda não concluídas. Mas a PGR não engoliu essa. “Olha, investigação que não terminou não é prova de nada, e usar isso pra justificar outra apuração, mais pesada ainda, é forçar a barra demais”, diz o texto, mais ou menos assim. Sem fato concreto, sem sustentação jurídica, fica só no campo da suposição – e suposição não é o bastante pra botar o Ministério Público pra correr atrás.
E tem mais: o tempo joga contra essa história toda. Os tais 51 imóveis foram comprados ao longo de três décadas, e muitos desses rolos já caíram no limbo da prescrição. Mesmo que tivesse algo estranho ali – e ninguém tá dizendo que tem –, a Justiça não ia conseguir mexer em muita coisa por causa do prazo legal. Fora que só citar parentes do ex-presidente não prova nada. “Ser da família não é crime”, parece gritar o parecer, com um tom de quem quer botar ordem na bagunça.
O vice-procurador também deu um recado claro: não dá pra sair abrindo investigação toda vez que uma matéria de jornal acende uma faísca. Isso seria como dar um cheque em branco pra fuçar a vida de qualquer um, sem critério, só porque alguém jogou uma suspeita no ventilador. E pior, essa não é a primeira vez que a PGR olha pra esse caso. Já teve uma Notícia de Fato antes, que acabou arquivada por falta de base. Insistir nisso agora, diz o documento, seria pisar na intimidade dos envolvidos sem motivo justo – quase um abuso do sistema judicial pra alimentar especulação da mídia.
No fim das contas, o arquivamento parece trazer um recado simples: pra acusar, tem que ter mais que manchete e vontade política. Aqui no Paraná, a gente diria que é “fazer barulho com lata velha”. A PGR preferiu o silêncio – e, pelo jeito, com razão.
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