Na manhã de ontem, dia 10 de abril, a sede da Ascoagrin, aqui em nossa região de fronteira, abriu as portas pra um encontro que, pelo menos no papel, parecia carregar um baita peso: reunir os prefeitos dos três municípios do Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF), Barracão e Bom Jesus do Sul/PR e Dionísio Cerqueira/SC. A ideia era bonita, daquelas que enchem o peito de esperança – fortalecer o papo entre os gestores, alinhar as expectativas e botar na mesa as demandas que apertam o calo das administrações municipais. Mas, cá entre nós, quem é daqui e acompanha essas coisas já sentiu um leve déjà-vu, né? Parece que todo ano tem um evento assim, com falas inspiradoras, cafezinho servido e uma foto bonita no final, mas, na prática, a coisa não anda como deveria. É quase como se fosse mais um curso de sempre, com os mesmos rostos de sempre, marcando presença pra cumprir tabela.
A Ascoagrin, que é uma associação importante, cobra sua anuidade dos sócios – até aí, tudo nos conformes, cada um paga pra fazer parte do time. O problema é quando chega a feira, que deveria ser o momento de brilhar, de fomentar o comércio, de abrir portas. Aí, meu amigo, vem a facada: taxa pra ter um estande. Tudo bem cobrar de quem não é sócio, mas e os associados? Mesmo com desconto, parece uma cobrança dupla, como se o sócio tivesse que pagar de novo pra mostrar a cara. É de se perguntar: fomentar o comércio de quem? Porque, na real, o pequeno empreendedor, aquele que rala pra manter a porteira aberta, muitas vezes fica só olhando de longe, enquanto os grandes, já fortalecidos, levam a melhor fatia do bolo.
Na reunião, os prefeitos sentaram pra conversar sobre os desafios dos municípios. Falaram de ações conjuntas, de melhorar a gestão pública, de estratégias pra encarar os perrengues regionais. A Ascoagrin quer se mostrar como parceira, alguém que chega junto com o poder público pra fazer a roda girar. A ideia é boa, ninguém pode negar. Mas tem um porém que não dá pra ignorar: na hora de dividir os benefícios, parece que os grandes players sempre saem na frente. Claro, o empresário forte precisa de apoio pra crescer mais, gerar mais empregos, botar mais dinheiro pra circular. Mas e o pequeno, onde fica? Como já dizia a sabedoria popular, ele acaba ficando com “as migalhas que caem aos cachorrinhos”. E isso, convenhamos, não é justo.
Os prefeitos, pelo menos no discurso, saíram animados. Disseram que foi um encontro positivo, que a união entre os municípios é o caminho pra soluções mais “redondinhas”, como a gente fala por aqui. Um dos temas que roubou a cena foi a dificuldade de achar mão de obra na região. Não é de hoje que isso tá pegando. O pessoal tá migrando pros grandes centros, buscando uma vida que aqui tá cada vez mais difícil de alcançar. A agricultura e a indústria, que são o coração da nossa economia, tão sofrendo com a falta de gente interessada. E não é só isso: tem a questão da qualificação. Falta formar o trabalhador, mostrar pra ele que vale a pena ficar. Mas como convencer alguém a ficar quando o próprio poder público, às vezes, paga um salário que, com os descontos na folha, não chega nem a um mínimo? É de desanimar qualquer um.
E tem mais: sendo uma região de fronteira, a coisa complica. O contrabando, mesmo com todos os riscos e a possibilidade de dar ruim com a justiça lá na frente, acaba virando uma tentação. Por quê? Porque o cara ganha no dia o que um emprego formal oferece no mês. É uma escolha que não vem do coração, mas da necessidade. Enquanto isso, na agricultura familiar, o cenário é de êxodo. Os insumos sobem de preço que nem foguete, mas o que o atravessador paga pelo produto despenca. O agricultor olha pro campo, faz as contas e vê que não fecha. Aí, muitos jogam a toalha e vão embora. Resolver isso não é só com os prefeitos – eles até podem ouvir, levar as demandas pra frente, mas a solução de verdade depende de políticas estaduais e federais. E aí fica a dúvida que martela na cabeça de qualquer um que vive aqui: será que quem tá lá em cima, com o poder de fato, tá disposto a resolver?
No fim das contas, o encontro na Ascoagrin foi um espelho da nossa realidade. Tem boas intenções, tem conversa séria, tem vontade de fazer dar certo. Mas também tem entraves, daqueles que a gente conhece bem: a dificuldade de incluir todo mundo no jogo, de dar chance pro pequeno crescer, de fazer o discurso virar ação. A região da fronteira é um lugar de potência, de gente trabalhadora, mas precisa de mais que reuniões e fotos bonitas. Precisa de atitude, de políticas que saiam do papel, de um olhar que enxergue o pequeno agricultor, o empreendedor que tá começando, o trabalhador que quer ficar. Porque, como diz o ditado, “de promessa em promessa, o bolso do pobre não enche”. E tá na hora de encher esse bolso com coisa boa, de verdade.
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