A Polícia Federal escancarou uma vergonha nacional: dirigentes de pelo menos sete entidades envolvidas em fraudes contra o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) eram, na verdade, apenas laranjas. No papel, quem aparecia como responsável eram idosos com renda de R$ 1,3 mil, beneficiários do Bolsa Família, parentes aleatórios e até uma funcionária da limpeza. Mas quem realmente enchia os bolsos eram 'líderes' espertalhões que lucravam com descontos indevidos sobre aposentados. Um rombo bilionário armado com cara de “associação” e carimbo de “parceria técnica”.
Segundo o Poder 360, essas entidades, juntas, já movimentaram R$ 1,7 bilhão após firmarem acordos com o INSS. Entre elas está a tal da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB), que firmou um acordo em 2021, quando José Carlos de Oliveira ainda era diretor do INSS. Desde então, a associação já passou por suas contas nada menos que R$ 168 milhões. A presidente da época? Dona Raimunda da Cunha, com 81 anos na cara. Pode até ser que ela nem soubesse o que estava acontecendo, mas seu nome bancou muita coisa.
E aí começa o rolo: a AAPB deu uma procuração com plenos poderes para o advogado Roberto Marinho Luiz da Rocha, que aparece no meio da grana movimentada pela associação. A entidade também aparece como fonte de pagamentos para Cecília Mota — uma espécie de peça-chave dessa engrenagem — que tem o nome ligado a várias outras organizações e é suspeita de intermediar dinheiro para servidores do INSS.
Outro exemplo é a Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (AAPEN), que já mexeu com R$ 233 milhões. Ela era chamada antes de ABSP e tinha sido descredenciada em 2019, mas, como num passe de mágica, foi reabilitada por André Fidelis, ex-diretor do INSS. Fidelis agora está na mira por supostamente ter recebido propina dessas entidades e também do famoso “Careca do INSS”, apontado como cabeça por trás de várias dessas falcatruas.
Cecília Mota, novamente ela, também aparece nas investigações envolvendo Fidelis. Dizem que os dois fizeram pelo menos uma dúzia de viagens a Portugal juntos, tudo pago por entidades que deveriam estar ajudando aposentados, não bancando turismo de luxo.
Quem presidia a AAPEN era Maria Eudenes dos Santos, ex-beneficiária do Bolsa Família. Ela também deu plenos poderes a Tiago Alves de Araújo — que, por sua vez, fez 15 viagens a Portugal com Cecília e ainda recebeu R$ 120 mil de um escritório que tem ligação com ela.
No fim das contas, é sempre o povo que leva a rasteira. Enquanto aposentados sofrem com descontos indevidos e esperam meses por atendimento, empresários e apadrinhados passeiam pela Europa às custas do suor alheio. A fraude é sofisticada, mas a esperteza é velha: colocar nome de pobre no contrato para desviar por trás. A conta, como sempre, sobra pra gente pagar.
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