Pois é, vivente, a coisa tá ficando esquisita. De um lado, a gente ouve o choro sentido de que o humorista Léo Lins passou da conta, que as piadas dele não são só de mau gosto, mas um desaforo, um jeito de pisar em quem já tá no chão. Dizem que a liberdade de um termina onde começa a do outro, e que usar o microfone pra destilar veneno disfarçado de graça não é liberdade, é covardia. E, vá lá, tem piada que é mais atravessada que mula empacada, a gente entende o desconforto. A Justiça, nesse embalo, meteu uma caneta de oito anos e três meses no Lins. Pesado, né?
Só que aí, do outro lado da cerca, o grito é de "censura!". O pessoal mais chegado numa prosa sem filtro argumenta que era um show fechado do piá. Quem foi, sabia mais ou menos o que ia encontrar, não era missa de domingo. E se começam a podar o humorista que faz piada com "minorias", daqui a pouco tão querendo cortar cena de filme, proibir música que não agrada o ouvido mais sensível, e aí, meu velho, a coisa desanda de vez. É aquela história: hoje levam o humorista porque a piada ofendeu, amanhã é o cineasta porque o filme cutucou uma ferida, depois o músico porque a letra não foi "inclusiva" o suficiente. Quando a gente se der conta, tá todo mundo falando baixinho, com medo de tropeçar numa palavra "errada" e parar no xilindró.
E o mais curioso nessa peleia toda é a turma que se diz defensora da liberdade de expressão, mas só até a página dois, saca? Quando o Danilo Gentili fez aquele filme lá, o "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola", teve gente dessa mesma patota pedindo pra tirar de cartaz, pra censurar. Agora, com o Lins, torcem o nariz pra condenação. E o tal do MC Poze do Rodo? As letras do vivente falam de crime, de uma vida que a gente sabe que não é flor que se cheire, e tem quem peça pra proibir os shows, pra calar o guri. Aí eu pergunto: a liberdade de expressão vale pra uns e pra outros não? Ou só vale quando a "expressão" agrada a sua cartilha?
Se a letra do MC é considerada apologia, e tem quem diga que é, então o Estado, antes de querer censurar a música, não tinha que dar um jeito de entrar nessas comunidades onde nem a polícia pisa direito? Onde os "artistas" do crime desfilam com fuzil na mão e a gurizada acha que aquilo é o caminho? Fica parecendo que é mais fácil calar o sintoma do que tratar a doença.
No fim das contas, essa condenação do Léo Lins deixa uma pulga graúda atrás da orelha. Será que estamos mesmo buscando justiça e protegendo os mais vulneráveis, ou estamos apenas abrindo a porteira para um controle cada vez maior sobre o que se pode dizer, pensar e, principalmente, rir? Porque, convenhamos, um mundo onde toda piada precisa passar pelo crivo do "pode ou não pode" antes de ser contada, é um mundo bem mais sem graça e, arrisco dizer, bem mais perigoso. Fica aí o chumbo trocado pra gente pensar, né?
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