A recente política externa do presidente Lula tem gerado ruídos e um desconforto crescente, que ficou explícito durante sua viagem à Europa. O ponto alto da tensão foi a divergência pública com o presidente francês, Emmanuel Macron, que criticou abertamente a tentativa do governo brasileiro de "passar pano" para a invasão da Ucrânia pela Rússia. Este episódio, que ocorreu em meio a homenagens recebidas por Lula e críticas da própria esquerda francesa, joga luz sobre um padrão preocupante: uma aparente condescendência e aproximação com regimes autoritários, levantando sérios questionamentos sobre os rumos e as verdadeiras alianças da diplomacia brasileira.
O mal-estar com Macron não foi um caso isolado, mas o sintoma mais visível de uma escolha que deixa muita gente de cara. Ao tentar se posicionar como um mediador neutro no conflito russo-ucraniano, o discurso de Lula soou, para muitos ouvidos ocidentais, como uma relativização das ações de Vladimir Putin. Essa postura não apenas gera atrito com democracias consolidadas, mas nos coloca num canto do tabuleiro geopolítico onde a defesa das liberdades parece ser um detalhe secundário, o que é algo para deixar qualquer um encafifado.
Este padrão se repete na relação com outros parceiros. A admiração e os elogios rasgados ao regime chinês, por exemplo, embora se justifiquem pela gigante parceria comercial, raramente vêm acompanhados de qualquer ressalva ao seu sistema de partido único e ao controle social férreo. Tentar dar um migué, separando completamente negócios e valores, é uma aposta arriscada. A diplomacia é feita de gestos, e os gestos do Brasil parecem validar modelos que estão nos antípodas do que se espera de uma sociedade livre.
Fica no ar a pergunta sobre a real motivação por trás dessas escolhas. Seria uma afinidade ideológica disfarçada de pragmatismo? Uma tentativa de construir um bloco de poder alternativo, onde os "incômodos" valores democráticos não apitem tanto? Sem respostas claras, cabe a nós, como sociedade, manter a guarda alta e continuar questionando. Afinal, a liberdade de fazer essas perguntas é o bem mais precioso que esses regimes, hoje tão afagados, fazem questão de suprimir.
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