A investigação sobre os atos de 8 de janeiro ganhou um novo e explosivo capítulo com a revelação de um áudio do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Na gravação, parte dos autos do processo, Cid afirma a um general do Exército que não foram encontradas provas de fraude nas urnas e que o então presidente Bolsonaro não tinha intenção de promover uma ruptura institucional, buscando agir "dentro das quatro linhas" da Constituição. A informação, trazida a público pelo advogado Cezar Bitencourt durante depoimento de Bolsonaro, contradiz frontalmente a narrativa de golpe sustentada por trechos da própria delação premiada de Cid e coloca em xeque a condução do inquérito relatado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, que figura no caso como vítima e juiz.
O vazamento seletivo de informações tem sido o combustível para a guerra de narrativas que polariza o país. De um lado, a grande mídia e setores da investigação focaram em partes da colaboração de Cid que incriminavam diretamente o ex-presidente, pintando o cenário de uma conspiração golpista bem articulada. Essa versão se tornou a tônica do noticiário, tratando a tentativa de golpe como um fato consumado, com base nas palavras do ex-ajudante de ordens que buscava benefícios penais.
Contudo, a divulgação do áudio pela defesa de Bolsonaro funciona como um contraponto que não pode ser ignorado. Para veículos de imprensa como a Folha de S.Paulo e o Estadão, além de analistas independentes e a oposição ao governo atual, a gravação é a "peça que faltava" para expor a complexidade, e talvez a parcialidade, do processo. A questão levantada é direta: por que um áudio com teor tão esclarecedor, que estava nos autos, não teve o mesmo peso ou a mesma divulgação que as acusações feitas na delação?
A situação fica ainda mais esquisita quando se analisa a estrutura do processo. O fato de o ministro Alexandre de Moraes, uma das supostas vítimas dos planos investigados, ser também o juiz responsável pelo caso, faz qualquer um que entende o mínimo de direito torcer o nariz. É uma particularidade processual que, para muitos juristas, compromete a isenção necessária ao julgamento. Foi nesse cenário já tenso que o advogado de Bolsonaro tirou o áudio da cartola, transformando um depoimento que seria protocolar em um momento de grande repercussão.
Agora, a dúvida está lançada e tem muito pano pra manga. Como uma mesma pessoa, Mauro Cid, pode sustentar em sua delação uma trama de golpe e, em uma conversa privada com um militar, afirmar o contrário? A revelação força a opinião pública a ir além da narrativa servida de bandeja. Fica a certeza de que, nessa história, é preciso estar sempre de olho vivo e ter uma boa dose de desconfiança para não comprar gato por lebre, porque a versão que prevalece nem sempre é a que corresponde à totalidade dos fatos.
Primeiro dia de julgamento fake e eis que um áudio, apresentado pelo advogado do ex-presidente Bolsonaro, revela a farsa.
— Cristina Graeml (@cristinagraeml) June 10, 2025
A única “prova” contra os mais de 30 acusados de um golpe que nunca existiu, a “delação” do ex-ajudante de ordens do presidente, o tenente-coronel Mauro Cid,… pic.twitter.com/GdX4IZp0wi
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