A política de vendas de aviões se mostrou de cara no mês passado, quando o presidente Donald Trump, em uma volta pelo Oriente Médio, deu uma força pra fechar a maior encomenda de aeronaves de grande porte que a Boeing já viu. Essa conexão entre os negócios e a diplomacia ficou clara de novo na Paris Air Show, uma das maiores feiras de aviação, quando a Airbus passou a Embraer na corrida por um compromisso da Polônia. Quem perdeu na jogada não demorou pra falar que a decisão tinha um quê de política.
Segundo informou a Bloomberg Línea, a LOT Polish Airlines, principal companhia aérea da Polônia, se comprometeu a pegar 40 jatos Airbus A220, com a possibilidade de aumentar o pedido para 84 unidades. Essa parceria representa um negócio que pode chegar a US$ 2,7 bilhões depois dos descontos de praxe do setor, conforme as contas da consultoria de aviação Ishka. Essa escolha da Airbus foi uma virada e tanto pra LOT, que há tempos vinha montando sua frota com aviões da Boeing e da Embraer. A LOT, inclusive, disse que ia tirar os jatos brasileiros da sua frota aos poucos.
A Embraer, depois que a LOT soltou o comunicado do pedido, soltou um outro, dizendo: "Entendemos que estamos vivendo num momento fora do comum onde a geopolítica manda um monte". A fabricante brasileira ainda ressaltou que continuar com a frota da Embraer que a LOT já tinha ia fazer a companhia polonesa economizar "milhões de euros". O toque político desse acordo era palpável durante a cerimônia de anúncio na feira de Paris. A sala de conferências da Airbus ficou lotada de figurões da Polônia, da França e até do Canadá, que é onde o Airbus A220 é montado. A Polônia mandou um ministro, embaixadores, e o ministro dos Transportes da França, Philippe Tabarot, fez até um discurso rapidinho.
"A concorrência ficou muito mais política do que um pedido normal de avião civil", soltou Nick Cunningham, analista da Agency Partners. Ele ainda completou que "França e Polônia tão tentando dar um jeito nas relações diplomáticas que andavam azedas". Pra completar, uma visita do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a Moscou em maio, pra celebrar os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, não caiu bem na Polônia, que é bem brava com a invasão da Ucrânia pelo Vladimir Putin, conforme o Cunningham explicou. Questionado sobre uma possível influência política no negócio, o CEO da LOT, Michal Fijol, deu uma desconversada: "Não foi um processo fácil, a gente recebeu duas propostas bem competitivas. Mas tô contente porque a Airbus queria a gente mais".
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